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27
Abr

O efeito “Vale” na FUNCEF

O balanço da Fundação dos Economiários Federais – FUNCEF de 2020 apresentou resultados bastante positivos, sobretudo, na carteira de ativos da Vale com a valorização das ações no último ano, segundo dados divulgados pela própria Fundação. 

Recentemente, informações extra-oficiais acerca da aprovação de uma possível venda de 50% destes ativos pela Diretoria Executiva e Conselho Deliberativo da FUNCEF, tomaram as redes sociais deixando participantes apreensivos com os impactos desta transação ao fundo de pensão.

Afinal, qual é o real peso desses investimentos na FUNCEF?
O vice-presidente do Condel da Federação Nacional das Associações de Gestores da CAIXA – FENAG, membro do Grupo de Trabalho da FUNCEF nesta entidade e presidente da Associação de Gestores da Caixa Econômica Federal de Belo Horizonte – AGECEF/BH, Rogério Vida, ilustra que, em 2019, a Fundação possuía 57,5% de ativos em renda fixa e 26,5% em renda variável, sendo 14,7% a mercado e, 8,9% na carteira ativa da Vale, equivalente a R$ 6,3 bilhões. “Naquele ano, a FUNCEF sofreu prejuízo de R$ 580 milhões nas ações da maior mineradora do mundo, mas, no ano passado, houve uma mudança significativa na posição dessas aplicações na carteira total, elevando a renda variável à participação de 30,2% nos ativos totais”.

Segundo Rogério, em entrevista ao “
Debatendo a FUNCEF em 15 Minutos”, promovido pela FENAG e Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal – FENAE, a Fundação teve o percentual de participação das Ações da Vale elevado a   12,6% (R$ 10 bi alocados neste ativo)no ano de 2020, representando 41% de toda a carteira de RV que somou, neste balanço, R$ 24 bilhões. “Podemos afirmar que a valorização de 65% no ano de 2020, nas ações da Vale, contribuíram de maneira decisiva para o resultado da FUNCEF , permitindo aos Ativos da FUNCEF uma valorização de 13,7%, frente a uma meta atuarial de 10,2%, o que gerou  um resultado de R$ 9,7 bi”.

Analisando o contexto em que a Vale está inserida, Adenir Marcarini, diretor de Relações Humanas e de Aposentados da AGECEF/SC, também integrante do GT FUNCEF da FENAG, explica que, apesar de ter havido um declínio no setor de commodities com tendência a baixa desde 2011, nos últimos meses, houve recuperação das mineradoras em todo o mundo superior aos patamares que os economistas vêem como positivos:
“Sempre ao se desfazer de um ativo, é importante que se estabeleça uma relação deste com seus pares internacionais. A Vale, grande exportadora de nossos commodities, compete com estes players do mercado”.
Adenir percebe que todas estão em franca recuperação com recordes de valorização pela retomada da economia chinesa com PIB histórico e recuperação da economia mundial como Estados Unidos e países com vacinação contra o Covid-19 avançada, logo, as mineradoras e demais produtoras de commodities serão beneficiadas.

Impactos no mercado de uma possível venda de ativos da Vale pela FUNCEF

Adenir explica que, no mercado de capitais e bolsa de valores, pode haver queda nos preços quando um ativo é alvo de venda por um grande investidor em grande volume e curto espaço de tempo como também há possibilidade de elevação no valor se houver alta na demanda pela compra desses ativos após a venda. “Do ponto de vista de mercado, teríamos a queda do papel, num primeiro momento, em função de um grande investidor ter vendido e, um seguinte, sua recuperação pelos investidores aproveitarem a queda e montarem suas posições”.

Por isso, o participante ressalta ser importante uma análise da venda total ou parcial num momento de ativo valorizado considerando vários aspectos, no caso da Vale, por exemplo, analisar o mercado internacional e seus pares internacionais para uma decisão prudente e cautelosa.

Reflexos nos resultados da Fundação e seus participantes

 Para Rogério, há uma expectativa de ganho como em 2020 porém, o resultado positivo só se realiza no balanço, caso haja a venda das ações no momento da alta, ou seja, realização de lucro, com entrada dos recursos em caixa. Há também a possibilidade de venda parcial, uma vez que todo o volume citado, seria muito elevado para se vender de uma única vez . “Assim, fica a dúvida sobre a destinação dos recursos, fruto desta eventual venda de Ações , permitindo-nos os questionamentos: O que será feito com esse recurso? Reinvestir onde? Diversificar a carteira? Não está claro ainda para nós. A FUNCEF não tem problemas de liquidez. Temos que ficar atentos a destinação destes recursos, pois isso definirá a rentabilidade de nossa carteiras nos próximos balanços.”

Alternativas

Para Adenir, não se pode contar com a RF, como papeis do Tesouro Nacional, com a taxa Selic entre 2% e 3%. Mesmo que suba um pouco na próxima reunião do Copom, não trará, nem de longe, a rentabilidade de que a FUNCEF precisa para atingir a meta atuarial.


Avaliando a necessidade de reaplicar os recursos de venda e os aportes mensais dos participantes e da Patrocinadora, ele vê como boas opções commodities, proteína animal, petróleo, gás, shoppings, hospedaria e viagens:
“com o arrefecimento da crise pelo Covid-19, a reabertura das economias, retomada dos vôos e retorno dos turistas, devem impactar positivamente no setor de turismo. Esta dinâmica de mudança de estratégia de alocação de recursos é bastante comum em fundos de pensão”.

Rogério relembra ser a finalidade das aplicações dos recursos financeiros dos fundos de pensão pagar aposentadorias, logo, devem ser remuneradas a uma taxa, no mínimo, equivalente à meta atuarial. Para ele, a venda deve ser estudada e a diversificação é benéfica em segmentos de mercado promissores, pois garantirá a meta atuarial, o pagamento dos benefícios e evitará novos déficits.
“Se a superação da meta for significativa como em 2020 com a valorização da Vale, que é o que esperamos, impactará na redução do valor já equacionado e, positivamente, nos resultados dos próximos balanços reduzindo o que pagamos hoje em equacionamento”

Adenir vê com otimismo a reabertura e recuperação das economias mundiais com o avanço da vacinação, especialmente, da China que, com a aproximação do centenário da Revolução Socialista, deverá mostrar ao seu povo sua pujância e, certamente, contribuirá com a Vale e toda cadeia de commodities do qual o Brasil exporta.

“O cenário é positivo ao Brasil e extremamente favorável à FUNCEF. Acredito que, em um ano, se bem gerida e com boa análise de cenários, nossa Fundação nos trará resultados que não apenas encerrem os equacionamentos como nos trarão excedentes financeiros e garantirão correções em nossos benefícios superiores ao INPC e ao IPCA, pois o mercado nos dá condições para isso”,
vislumbra.

Por fim, Rogério destacou a importância deste painel de debates periódicos, principalmente, neste momento, possibilitando a discussões de informações relevantes aos participantes da FUNCEF. “Vemos muitas preocupações nas redes sociais por parte dos colegas por não se ter conhecimento suficiente. Trazer informações aos colegas e debater alternativas nos ajuda a pensarmos soluções juntos”.