O balanço da Fundação dos
Economiários Federais – FUNCEF de 2020 apresentou resultados bastante
positivos, sobretudo, na carteira de ativos da Vale com a valorização das ações
no último ano, segundo dados divulgados pela própria Fundação.
Recentemente,
informações extra-oficiais acerca da aprovação de uma possível venda de 50%
destes ativos pela Diretoria Executiva e Conselho Deliberativo da FUNCEF,
tomaram as redes sociais deixando participantes apreensivos com os impactos
desta transação ao fundo de pensão.
Afinal,
qual é o real peso desses investimentos na FUNCEF?
O
vice-presidente do Condel da Federação Nacional das Associações de Gestores da
CAIXA – FENAG, membro do Grupo de Trabalho da FUNCEF nesta entidade e
presidente da Associação de Gestores da Caixa Econômica Federal de Belo
Horizonte – AGECEF/BH, Rogério Vida, ilustra que, em 2019, a Fundação possuía
57,5% de ativos em renda fixa e 26,5% em renda variável, sendo 14,7% a mercado
e, 8,9% na carteira ativa da Vale, equivalente a R$ 6,3 bilhões. “Naquele ano, a FUNCEF sofreu prejuízo de R$
580 milhões nas ações da maior mineradora do mundo, mas, no ano passado, houve uma mudança
significativa na posição dessas aplicações na carteira total, elevando a renda
variável à participação de 30,2% nos ativos totais”. Segundo
Rogério, em entrevista ao “Debatendo a FUNCEF em 15 Minutos”,
promovido pela FENAG e Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa
Econômica Federal – FENAE, a Fundação teve o percentual de participação das
Ações da Vale elevado a 12,6% (R$ 10 bi
alocados neste ativo)no ano de 2020, representando 41% de toda a carteira de RV
que somou, neste balanço, R$ 24 bilhões. “Podemos
afirmar que a valorização de 65% no ano de 2020, nas ações da Vale,
contribuíram de maneira decisiva para o resultado da FUNCEF , permitindo aos
Ativos da FUNCEF uma valorização de 13,7%, frente a uma meta atuarial de 10,2%,
o que gerou um resultado de R$ 9,7 bi”. Analisando o
contexto em que a Vale está inserida, Adenir Marcarini, diretor de Relações
Humanas e de Aposentados da AGECEF/SC, também integrante do GT FUNCEF da FENAG,
explica que, apesar de ter havido um declínio no setor de commodities com
tendência a baixa desde 2011, nos últimos meses, houve recuperação das
mineradoras em todo o mundo superior aos patamares que os economistas vêem como
positivos: “Sempre ao se desfazer de um ativo, é importante que se estabeleça uma
relação deste com seus pares internacionais. A Vale, grande exportadora de
nossos commodities, compete com estes players do mercado”. Adenir percebe
que todas estão em franca recuperação com recordes de valorização pela retomada
da economia chinesa com PIB histórico e recuperação da economia mundial como
Estados Unidos e países com vacinação contra o Covid-19 avançada, logo, as mineradoras
e demais produtoras de commodities serão beneficiadas. Impactos
no mercado de uma possível venda de ativos da Vale pela FUNCEF
Adenir explica
que, no mercado de capitais e bolsa de valores, pode haver queda nos preços
quando um ativo é alvo de venda por um grande investidor em grande volume e
curto espaço de tempo como também há possibilidade de elevação no valor se
houver alta na demanda pela compra desses ativos após a venda. “Do ponto de vista de mercado, teríamos a
queda do papel, num primeiro momento, em função de um grande investidor ter
vendido e, um seguinte, sua recuperação pelos investidores aproveitarem a queda
e montarem suas posições”.
Por isso, o
participante ressalta ser importante uma análise da venda total ou parcial num
momento de ativo valorizado considerando vários aspectos, no caso da Vale, por
exemplo, analisar o mercado internacional e seus pares internacionais para uma
decisão prudente e cautelosa.
Reflexos
nos resultados da Fundação e seus participantes
Para
Rogério, há uma expectativa de ganho como em 2020 porém, o resultado positivo
só se realiza no balanço, caso haja a venda das ações no momento da alta, ou
seja, realização de lucro, com entrada dos recursos em caixa. Há também a
possibilidade de venda parcial, uma vez que todo o volume citado, seria muito
elevado para se vender de uma única vez . “Assim, fica a dúvida sobre a destinação dos
recursos, fruto desta eventual venda de Ações , permitindo-nos os
questionamentos: O que será feito com esse recurso? Reinvestir onde?
Diversificar a carteira? Não está claro ainda para nós. A FUNCEF não tem
problemas de liquidez. Temos que ficar atentos a destinação destes recursos,
pois isso definirá a rentabilidade de nossa carteiras nos próximos balanços.”
Alternativas Para
Adenir, não se pode contar com a RF, como papeis do Tesouro Nacional, com a
taxa Selic entre 2% e 3%. Mesmo que suba um pouco na próxima reunião do Copom,
não trará, nem de longe, a rentabilidade de que a FUNCEF precisa para atingir a
meta atuarial.
Avaliando a
necessidade de reaplicar os recursos de venda e os aportes mensais dos
participantes e da Patrocinadora, ele vê como boas opções commodities, proteína
animal, petróleo, gás, shoppings, hospedaria e viagens: “com o arrefecimento da crise pelo Covid-19, a reabertura das
economias, retomada dos vôos e retorno dos turistas, devem impactar
positivamente no setor de turismo. Esta dinâmica de mudança de estratégia de
alocação de recursos é bastante comum em fundos de pensão”. Rogério
relembra ser a finalidade das aplicações dos recursos financeiros dos fundos de
pensão pagar aposentadorias, logo, devem ser remuneradas a uma taxa, no mínimo,
equivalente à meta atuarial. Para ele, a venda deve ser estudada e a
diversificação é benéfica em segmentos de mercado promissores, pois garantirá a
meta atuarial, o pagamento dos benefícios e evitará novos déficits. “Se a superação da meta for significativa
como em 2020 com a valorização da Vale, que é o que esperamos, impactará na
redução do valor já equacionado e, positivamente, nos resultados dos próximos
balanços reduzindo o que pagamos hoje em equacionamento” Adenir vê com
otimismo a reabertura e recuperação das economias mundiais com o avanço da
vacinação, especialmente, da China que, com a aproximação do centenário da
Revolução Socialista, deverá mostrar ao seu povo sua pujância e, certamente,
contribuirá com a Vale e toda cadeia de commodities do qual o Brasil exporta. “O cenário é positivo ao Brasil e
extremamente favorável à FUNCEF. Acredito que, em um ano, se bem gerida e com
boa análise de cenários, nossa Fundação nos trará resultados que não apenas
encerrem os equacionamentos como nos trarão excedentes financeiros e garantirão
correções em nossos benefícios superiores ao INPC e ao IPCA, pois o mercado nos
dá condições para isso”, vislumbra.
Por fim, Rogério destacou a importância deste
painel de debates periódicos, principalmente, neste momento, possibilitando a
discussões de informações relevantes aos participantes da FUNCEF. “Vemos muitas preocupações nas redes sociais
por parte dos colegas por não se ter conhecimento suficiente. Trazer
informações aos colegas e debater alternativas nos ajuda a pensarmos soluções
juntos”.